2006.04.22 – III Encontro Cultural da ilha das Flores

III Encontro Cultural da ilha das Flores
“Marinheiros do Extremo Ocidental da Europa: histórias de ontem e de hoje”
22 de Abril - 15 horas - Auditório da Biblioteca Pública de Ponta Delgada

PROGRAMA

15 horas – Sessão de abertura
1º PAINEL – “Algumas considerações em torno da cabotagem e da baleação” - Orador: João António Gomes Vieira (florentino, antigo funcionário público, investigador e apaixonado pelas coisas do mar, tem várias obras escritas entre as quais se destaca “O Homem e o Mar: Embarcações dos Açores”, lançado em 2002);
PROJECÇÃO DE IMAGENS DA CAÇA À BALEIA na ilha das Flores e de observação de cetáceos
2º PAINEL – “Whale-watching: o reviver do espírito baleeiro” - Orador: Dr. Rui Rodrigues (natural de Angola, viveu nas Flores, actualmente vive em São Miguel, é formado em História, é empresário e sócio da empresa ‘Futurismo Whale-Watching’, também ele amante das coisas do mar);
DEBATE (moderação pelo jornalista da RDP-Açores, Sidónio Bettencourt)
18 horas – Sessão de encerramento
19:30 horas – Jantar na sede da AAIF







CONCLUSÕES: Património baleeiro não pode ser esquecido

Uma grande preocupação com o património baleeiro da Região - desde as antigas fábricas e vigias às canoas, passando pelo próprio saber dos antigos baleeiros e pelas velhas artes de marinheiro - e a necessidade de preservar e valorizar tudo isto, foram as principais conclusões saídas do III Encontro Cultural da Ilha das Flores, que este fim de semana decorreu na Biblioteca Pública de Ponta Delgada.
Subordinado à temática “Marinheiros do Extremo Ocidental da Europa: histórias de ontem e de hoje”, este encontro promovido pela Associação Amigos da Ilha das Flores, pretendeu recordar e homenagear todos quantos viveram e vivem do mar, não apenas na ilha das Flores mas pelas nove ilhas do arquipélago açoriano.
O investigador florentino João António Gomes Vieira começou por tecer algumas considerações em torno da cabotagem e da baleação, sublinhando o isolamento e mau tempo que desde sempre fustigaram as ilhas do Grupo Ocidental do arquipélago, bem como enaltecendo a coragem de marinheiros e baleeiros.
Recordou ainda histórias antigas, curiosidades, datas e números, como por exemplo o facto da primeira baleia ter sido caçada em 1860 ou de em 146 anos de baleação na ilha das Flores terem sido caçadas cerca de 2000 baleias. Ao longo da sua intervenção foram sendo projectadas fotografias antigas relacionadas com a temática abordada.
Por seu turno, o empresário Rui Rodrigues falou da observação de cetáceos e do reviver do espírito baleeiro, considerando que o whale-watching é uma herança da baleação açoriana, porque possivelmente não existiria whale-watching se não tivesse existido caça à baleia ou se esta não tivesse tido a importância que teve na vida do povo açoriano.
Na sua opinião foi a observação de cetáceos que veio despertar a consciência das pessoas para a necessidade e importância de preservar este património, sendo que no Faial e Pico é onde existe já um maior trabalho feito nesta área, ao contrário das Flores ou de São Miguel onde há ainda muito a fazer.
Desde o seu início, a observação de cetáceos tem usado e tem-se servido sempre da história da caça à baleia como base, sendo mesmo curioso que embora São Miguel tivesse a mais importante fábrica de baleia da Região em São Vicente Ferreira, fosse esta ilha onde as pessoas tivessem menos memória da baleação e onde até se pensava que não haveria baleias para poder fazer ‘whale-watching’, levando assim algum tempo até que esta actividade se conseguisse implementar.
Com o desenvolvimento desta actividade alargaram-se também os horizontes, os conhecimentos e a biodiversidade. Isto porque ao contrário do que muita gente pensa, e porque outrora apenas se caçavam cachalotes, não existem apenas cachalotes mas podem ser observadas 24 espécies de cetáceos nos mares dos Açores e ao longo de todo o ano. Realçou ainda um aumento notório do stock de cetáceos e óptimas taxas de observação para quem procura este produto turístico.
Para este empresário do ramo, “o whale watching é uma das bandeiras do turismo de natureza açoriano” e “uma das actividades que mais motiva os turistas a virem aos Açores”, sendo também um manancial de entrada de divisas, ao contrário do que muita gente erradamente pensa.
Mostrando fotografias de cetáceos, acrescentou ainda que a sua observação foi e é ‘um regresso ao futuro’, preservando e revivendo o espírito baleeiro e o próprio ambiente marinho, mas também abrindo caminho para o futuro, porque afinal há mais para ver, mostrar e fazer.
Com moderação a cargo do jornalista Sidónio Bettencourt, às intervenções dos dois oradores convidados seguiu-se um período de debate, registando-se algumas intervenções por parte do público presente.
Sidónio Bettencourt afirmou que estes dois mundos paralelos de ontem e de hoje se interligam e têm muito em comum, porque afinal “morreu a caça à baleia mas não morreram as baleias” e também porque há ainda muito trabalho a desenvolver e muito a estudar nestas áreas.
Destaque ainda para a projecção de fotografias da caça à última baleia na ilha das Flores, da autoria do fotógrafo florentino Abel Pinheiro Silva (já falecido) e cuja montagem esteve a cargo do seu filho Samuel Silva, que ofereceu a mesma em formato digital à Associação Amigos da Ilha das Flores.
Ao encontro cultural seguiu-se um jantar na sede da associação, que se prolongou pelo serão fora, em são convívio e amena cavaqueira.
Esta foi mais uma actividade de cariz social e cultural levada a cabo pela AAIF e que se enquadra nos principais objectivos da mesma, tendo contado com o especial apoio da SATA Air Açores e da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada.
Devido ao forte entusiasmo e adesão, espera-se para breve uma reedição deste encontro na ilha das Flores, para homenagear os antigos baleeiros e os homens do mar da ilha mais Ocidental da Europa.







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