2004.04.17 - I Encontro Cultural da Ilha das Flores

I Encontro Cultural da Ilha das Flores
“Flores, economia e turismo, que futuro?”
17 de Abril - 15 horas - Auditório da Biblioteca Pública de Ponta Delgada

O encontro integrou duas palestras: uma primeira onde foram abordadas questões ambientais e cujos oradores foram o juiz Araújo Barros e o arquitecto e ambientalista da Quercus Faria e Maia; enquanto que a segunda abordou a economia e o turismo, contando com as intervenções do economista florentino Cabral Vieira e do empresário Francisco Ribeiro.
Ficou a ideia de que muito há ainda a fazer pelo ambiente, pela economia e pelo turismo da ilha, o que implica que todos se envolvam e participem mais neste processo, seja apresentando queixas aos tribunais, seja fazendo parte ou criando associações ambientalistas dinâmicas, porque afinal não basta à ilha ser bonita e ter paisagens fantásticas, sendo também ela uma ilha frágil dadas as suas características.
O evento teve o apoio da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada.









CONCLUSÕES: Cidadãos devem ir mais aos tribunais
O juiz Araújo Barros defendeu, no Encontro dos Amigos das Flores, que os cidadãos devem recorrer mais aos tribunais para levantar problemas ambientais.
“O cidadão tem obrigação de por si próprio reagir e não esperar que os outros reajam antes dele”, afirmou Araújo de Barros numa palestra dedicada ao ambiente, que decorreu em São Miguel a 17 de Abril, inserida no I Encontro Cultural da ilha das Flores.
O juiz deu uma lição sobre Ambiente e cidadania a todos os presentes, sublinhando que “tanto o cidadão como as associações ambientalistas têm a obrigação de recorrer aos tribunais para defenderem os seus direitos, levantando mesmo uma acção contra o poder político se houver razões para isso porque têm toda a legitimidade para o fazer”.
Apelou assim às pessoas para irem mais aos tribunais e não terem medo de afirmar os seus direitos quando entenderem que devem fazê-lo, “reagindo e não ficando na mesa do café a dizer que o poder político não faz nada”.
Falou ainda dos políticos que são eleitos pelos cidadãos e da missão que estes têm de preservar os bens públicos, mas cujas prioridades são sempre outras que não o ambiente, o que faz com que os políticos não sejam os melhores defensores do ambiente.
Como nem tudo o que é bem comunitário é defendido pelo Estado, Araújo de Barros considera que deverá sê-lo por cada um e pelas associações ambientais, que existem para defender o ambiente, reclamando e chamando a atenção para as questões que bem entenderem.
Faria e Maia, da Quercus, pegou nas palavras de Araújo de Barros para apelar e desafiar as pessoas a darem emprego aos tribunais e a matricularem-se nas associações ambientalistas.
Falou das questões e problemas ambientais na Região e na ilha das Flores em particular, realçando a crescente invasão do betão a que se tem assistido e a necessidade de no futuro se inventarem ‘novas aldeias de casa de pedra’, para evitar que os Açores se transformem num Algarve. Na sua opinião, “ninguém vem aos Açores ver betão, muito menos com os transportes tão caros como eles são para este destino turístico”.
No caso das Flores, Faria e Maia salientou a riqueza paisagística desta ilha e dos seus trilhos pedestres que a muitos fazem inveja, defendendo a necessidade de uma maior aposta no turismo de natureza naquela ilha, afirmando que “são as paisagens das Flores que ajudam a encher os hotéis das outras ilhas”.
Tempo ainda para falar da problemática das duas lixeiras a céu aberto que ainda existem naquela ilha do Grupo Ocidental, bem como da polémica à volta da localização do aterro sanitário, que continua a dividir opiniões e a dar que falar. O arquitecto e ambientalista espera que outras experiências e outros exemplos nestas áreas sirvam de lição para o futuro, “para evitar suicídios turísticos numa ilha cujo território é ainda caloiro na faculdade do turismo internacional”.
Além do ambiente, também o turismo esteve em foco num segundo painel que integrou a palestra ‘Flores: que futuro’ neste I Encontro Cultural da Ilha das Flores promovido pela associação ‘Amigos da ilha das Flores’.
O economista Cabral Vieira foi o primeiro orador e falou da pequenez e fragilidade das Flores, da sua beleza e do seu tecido económico e empresarial, numa ilha onde a agro-pecuária é a principal actividade e onde só agora o turismo começa a assumir uma nova vertente.“Não basta ter paisagem, é preciso comercializar sem deteriorar”, afirmou, considerando ser necessário ‘exportar’ as paisagens e realçando que o grande problema daquela ilha é sobretudo a fixação da sua população.
Falou ainda da necessidade de um turismo mais profissionalizado, cuja responsabilidade não compete ao governo mas à iniciativa privada. Acrescentou que “só faz sentido falar de turismo quando os visitantes contribuem para o bem estar das populações”, por isso acha que “é preciso que os turistas deixem dinheiro na ilha mas esta também tem que ter algo para vender e tem que ter um verdadeiro circuito turístico que não existe”.
Por seu turno, Francisco Ribeiro, administrador da Açorline, realçou o papel que esta empresa tem tido no desenvolvimento da ilha, embora sublinhando a necessidade de melhorar as condições de acesso à mesma e a oferta existente na ilha em termos turísticos.
Francisco Ribeiro disse que por parte do Governo tem havido um maior esforço para juntar outras componentes ao transporte de passageiros, procurando fazer o maior número de viagens possível àquela ilha dadas as condicionantes existentes.
Considerou ainda que o ambiente e o património da ilha das Flores são fortes atracções turísticas, mas também disse que nada se faz sem as pessoas terem condições para se fixarem e para investirem e desenvolverem a sua terra e a economia da mesma.

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